O italiano Alcide Latini, filho do marceneiro Amadio Latini, nasceu em Lubriano, província de Roma, em 1888.

Em 02 de novembro de 1898, os Latini, com os filhos Alcide, na época com dez anos, Anelio – que seria pintor – e irmãs, migraram para o Brasil, em busca de melhores condições de vida, fugindo de uma Itália mergulhada em dificuldades.

Após desembarcarem de uma longa viagem de navio em condições precárias, no Rio de Janeiro, prosseguiram de trem e de carro de boi, indo se estabelecer na Fazenda Boa fé, em Barão de Aquino, região serrana do Estado do Rio. A fazenda estava em plena decadência e buscava mão de obra imigrante barata para o trabalho na lavoura.

Alcide e sua família permaneceram ali por quatro anos, mudando-se em seguida – quando Alcide contava 14 anos – para outra fazenda, onde conseguiram, devido às habilidades do pai marceneiro, carpinteiro e mecânico, melhores condições de vida.

Com o árduo trabalho do pai, conseguiram fazer funcionar um pequeno moinho quebrado, adquiriram alguns animais de criação, e desenvolveram uma pequena plantação para a subsistência e o sustento da família.

Os anos se passaram e, com esforço e reconhecimento das habilidades de pai e filho, ambos foram convidados para terminarem a obra do Teatro do Colégio Anchieta em Nova Friburgo, a maior cidade da região serrana.

Estas obras foram coordenadas pelo arquiteto italiano Sartori, religioso que construiu o Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro. Alcide, durante cinco anos, não assumiu nenhuma outra obra na cidade de Nova Friburgo, dedicando-se completamente ao Teatro e, quando a obra terminou, não encontrou novas oportunidades de trabalho na cidade serrana.

Aos 18 anos, Alcide foi convidado a morar e trabalhar em Copacabana, como carpinteiro e, posteriormente, como encarregado da arte da construção de automóveis, na renomada Oficina do Risoto.

Aos 23 anos voltou a Nova Friburgo e, após 11 anos de casamento, ficou viúvo, com sete filhos para criar, o que foi viabilizado por ter se tornado um próspero pequeno industrial no ramo da marcenaria e carpintaria.

A indústria começou a se desenvolver e chegou a ter duzentos funcionários empregados, destacando-se na prestação de serviços a diversos segmentos na cidade de Nova Friburgo.

Com a família estruturada com o segundo casamento com Clara Moraes, e com a indústria prosperando cada vez mais, comprou uma grande propriedade na Praça do Suspiro, onde passou a morar com a esposa e onze filhos.

O tempo passou e começaram a surgir algumas dificuldades com o fornecimento de energia elétrica para o funcionamento das máquinas. Alcide, desgostoso, vendeu todo o seu patrimônio e a parte do seu negócio ao sócio, e se estabeleceu em Niterói, onde havia mais recursos e possibilidades para a educação dos filhos e para trabalhar.

Com a ajuda dos filhos, principalmente os mais velhos e, mesmo já aposentado, retomou seu ofício em um pequeno galpão nos fundos de sua casa. Desta vez, não para a sobrevivência financeira, e sim, como terapia ocupacional, criando e produzindo para filhos e netos inusitadas peças em madeira recicladas em sua organizada marcenaria, o que revela o seu pioneirismo: em uma época na qual não se falava ainda em reciclagem, Alcide já tinha essa visão de aproveitamento dos materiais.

Da imagem e personalidade de Alcide Latini, que o transformava em uma figura humana impar, não era apenas seu temperamento destemido, mas a inteligência e a curiosidade pela vida, somadas à marca permanente de seu inseparável chapéu e de sua bengala, sempre firme e segura pela mão direita calejada do trabalho duro, onde visivelmente se via a ausência de seu polegar, que quando ainda jovem, perdeu em uma máquina de serra circular.

A herança que deixou para os filhos foi a de um homem pioneiro e trabalhador, que passou para a sua descendência o amor pela arte da marcenaria e pelas Artes em geral.

 

Veja algumas criações de Alcide Latini para os filhos e netos.