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Alguns afirmam que determinados assuntos não se discutem e não se questionam devido ao fato fazerem parte do gosto pessoal de cada um. Tal afirmativa, a meu ver, é dogmática e reflete a incapacidade ou a falta de oportunidade de certas pessoas em adquirir recursos para o seu desenvolvimento cultural e, consequentemente, não poderem verificar que as coisas não são bem assim.
Em todas as áreas, a pesquisa, o questionamento e a discussão são elementos vitais de desenvolvimento. Em relação às artes, mais especificamente, constato, com frequência, esta sofismável declaração de que gosto não se discute. Acredito que isto ocorra por serem as artes uma condição inerente à natureza humana que se revela, a todo instante, através de um processo onde a liberdade é um fator sine qua non. O que não justifica que um grupo de espectadores não compromissados em relação a ela, como são os artistas que diariamente exercitam as suas sensibilidades e suas ações criadoras, neguem que o resultado deste processo – as obras de arte – seja fundamentado em conhecimentos e razões lógicas que, aos olhos dos leigos, não são vistas nem compreendidas.
Em todos os capítulos da história, os artistas, representados por suas criações, imprimiram ao seu grupo social o que, em síntese, poderia ser, independentemente da verdade, o que em suas visões era o que havia de melhor, de mais bonito e espiritualmente mais rico.
Em nosso tempo, alguns movimentos marcaram a sociedade neste sentido. No princípio do século XX, um grupo de jovens artistas se reuniu na Alemanha e organizou um centro de pesquisa e desenvolvimento que se denominou Bauhaus. O objetivo deste centro era discutir e elaborar sistemas racionais dirigidos para a educação da sensibilidade a fim de atenderem às linhas de montagem das indústrias que, desordenadamente, começavam a introduzir no mercado produtos de baixa qualidade, pouco funcionais e que esteticamente deixavam muito a desejar. A Bauhaus se tornou representativa dessas aspirações à medida que cumpriu o seu papel.
Hoje, os produtos industrializados levam a sua marca, seja em nossas geladeiras, em nossos automóveis, televisões, letreiros de rua, etc. Consequentemente, a Bauhaus abriu espaço para que, hoje, ao escolhermos um produto para nosso uso pessoal, alguém, em algum outro lugar mais equipado, já tenha determinado aquilo que certamente iremos gostar de usar.
Gostaria de deixar claro que a questão que estou abordando não diz respeito à liberdade de escolha e sim a um apelo à necessidade em aguçar a condição de análise, reflexão e discussão dos fatores e das propostas que, nas artes, à primeira vista, podem desagradar mas, melhor compreendidas, se modificarão, abrindo novos caminhos sem os quais gosto não se discutiria mesmo.

JOÃO LATINI