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Estudo de Reforma

No artigo anterior falei a respeito da relação do arquiteto com o cliente que, muitas vezes conflitante por pontos de vista e formação cultural diferentes, interfere na criação do projeto e na realização da obra.
Agora, acredito que podemos nos adiantar em outros aspectos, perseguindo sempre uma arquitetura autêntica, ao contrário de muitos que, a fim de obterem maiores lucros, vêm desfigurando nossa paisagem e embotando a sensibilidade e o bom senso daqueles que acreditam em melhores condições de vida e moradia.
Assim, aproveitando essa nova oportunidade, gostaria de chamar a atenção para uma causa importante não só para aqueles que desconfiam da função do arquiteto, mas para todos nós profissionais da arquitetura, que consideramos de natureza poética, sonhadora e, portanto, duvidosa, os quais vimos sendo injustamente prejudicados em nosso campo de trabalho.
Nós, arquitetos, estamos sendo relegados a segundo plano. À nossa frente, dezenas de especuladores vêm influenciando as pessoas, em geral, a desconfiarem da importância de um bom projeto para suas obras. Convencem pessoas de todos os níveis, social, cultural, econômico, de que, “pagar um projeto de arquitetura é comprar uma ilusão” e que, ao invés disso, deveriam investir este dinheiro diretamente em suas obras, em areia, tijolos e cimento, partindo sozinhos na execução da obra.
Infelizmente, porém, a cada uma dessas tentativas, ergue-se mais um monumento à ingenuidade e ao desconhecimento.
Sei que muitas vezes um projeto de arquitetura pode custar caro, mas nunca eleva o custo global da obra. O preço de uma boa idéia e um bom detalhamento são a diretriz e o planejamento que evitam as surpresas desagradáveis no decorrer da sua execução, principalmente sob o aspecto financeiro.
Assim, só posso admitir que a maioria das pessoas esteja desconhecendo completamente o trabalho e a formação do arquiteto e, somente por isso, aceito o desrespeito a nossa ética profissional. Mas, por outro lado, me dou também o direito de condenar livremente a todos, mostrando-lhes o que não sabem, mostrando-lhes que atrás do nosso comércio de ilusões existe uma lógica e que, por trás desta lógica, somente nós encontramos a possibilidade de sonhar e criar, em um espaço em que só o arquiteto é dono.
E consciente da minha posição, gostaria de poder contar neste sentido, com a colaboração de meus colegas e com a compreensão de nosso leitor.
JOÃO LATINI