Filho de imigrante Italiano, o Arquiteto de Interiores autodidata, Clovis Latini nasceu em Nova Friburgo, cidade serrana do Estado do Rio de Janeiro, em 26 de agosto de 1929. Mais tarde, se estabeleceu em Niterói.

Desde cedo, herdou do pai o trabalho manual, o senso crítico e o compromisso com o perfeccionismo.

Com aptidão nata para o desenho, desenvolveu suas habilidades primeiramente na gráfica da sua família, onde foi publicada a primeira e inusitada revista em material plástico. Ali, aprendeu a dominar diversas técnicas e ferramentas da arte gráfica e da publicidade.

Posteriormente, no Banco do Brasil e Banco Central, veio fechar o ciclo destas experiências.

Aos poucos, começou a se relacionar com intelectuais e com o mundo das Artes, freqüentando ateliês de pintores, escultores, fotógrafos e escritórios de arquitetura. Dessa maneira formou um grande ciclo de amizades em diversas áreas de convívio social, político e artístico.

Gostava muito de organizar, arrumar e participar de festas na casa de seus clientes. Essa atividade se desdobrou, transformando-se em um trabalho diferenciado que, apaixonadamente, levou para o resto de sua vida: a Arquitetura de Interiores.

Arrojado e de extremo bom gosto, começou a ser requisitado pelos clientes e amigos, passando a trabalhar profissionalmente com o que, até então, realizava dentro de sua casa e que encantava a maioria dos que por lá passavam.

Das descobertas e das influências que teve na sua carreira – e que atentamente soube captar para o seu trabalho -, Clovis Latini sempre se lembrou da importância de suas relações de amizade com Sérgio Bernardes, Zanini Caldas e Sergio Rodrigues, de quem foi parceiro em muitos trabalhos desde os tempos da criação da OCA, até os anos 1990, quando do seu falecimento.

Como Arquiteto autodidata, mergulhava a fundo nas questões, sempre pesquisando e investigando o que havia de melhor na sua área. Sua proposta não era ser um decorador. Sua atuação se diferenciava em busca de um sentido mais amplo, em função de sua capacidade de compreender, solucionar e intervir, adequando os diversos espaços em que trabalhava, fazendo uso de sua rica experiência e da sua multiplicidade de vivências e de sua grande percepção e sensibilidade das coisas e do mundo à sua volta.

Movido por extremo prazer no seu trabalho, conviveu com artistas de diversas áreas, como o fotografo Luciano Carneiro, o cineasta Nelson Pereira dos Santos, o artista plástico Juarez Machado e o pintor Ivan Serpa, este último, seu grande amigo, que o ajudou a penetrar e compreender as possibilidades e a importância do que é ser criativo.

Clovis Latini sempre dizia aos mais próximos que “era preciso chegar à exaustão até se chegar à melhor solução. As possibilidades são infinitas, porém, as melhores estão escondidas, muitas vezes, diante de nossos olhos”.

Como autodidata, deixou um lastro invejável de realizações. Transformou residências em palácios e palácios com alma de residências. Tinha o dom de humanizar os espaços e de racionalizá-los, desmontando os labirintos e revertendo-os de forma limpa e pura.

Devido ao seu bom gosto apurado e refinado, exigia os melhores profissionais para integrar a sua equipe e sempre trabalhou com os melhores construtores, marceneiros, fornecedores.

Não importava que tipo de obra fosse desenvolver: bancos, residências, coberturas, teatros, espaços públicos ou privados, todas eram realizadas com extremo perfeccionismo, racionalidade e beleza, desde os pequenos objetos até as mais complicadas soluções arquitetônicas.

Clovis Latini foi precursor da Arquitetura de Interiores no Brasil e, sem dúvida, está entre os melhores de nosso tempo e de sua geração.

 

“Inesquecível
Uma bela história.
Se havia alguém que escrevia um livro com suas páginas retratando fatos interessantes de uma época em que o glamour, a sensualidade, a beleza e a sofisticação dominavam os elegantes salões em várias partes do mundo, sem dúvida era o arquiteto Clóvis Latini.
O grande amigo. Uma figura ímpar. Nem mesmo nos últimos anos se deixou abater pela doença, que o levou ontem.
Ao lado de Maria Esther Latini – a morena de brilhantes olhos verdes – enfeitavam os salões e a vida da sociedade.
Seu carinho, amizade e dignidade jamais serão esquecidos, assim como a lembrança de sua presença ao volante de lindíssimos conversíveis que traduziam todo o seu savoir-faire e savoir vivre.”

Estela Prestes
O Fluminense
07/08/1998

 

Homenagem Póstuma

Veja mais>